24 janeiro, 2008

Parte 16: A Pesca da Tainha 2 - A Fartura por Recompensa

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A rede continuava ainda longe do lagamar.
O peso era muito grande para o número pequeno de homens que a puxavam. Nem mesmo, a ajuda dos l0 homens que faziam parte da tripulação das duas canoas de cerco, havia acelerado significativamente a velocidade de puxar a rede, pois tudo indicava que seria um grande lanço.
As condições do mar eram favoráveis, não criando maiores dificuldades ao trabalho do ‘arrasto’.

Mais de 2 horas haviam se passado, com o pessoal se revisando junto aos cabos de arrasto, quando a ponta do calão se aproximou do lagamar.

Dois homens de estatura mais elevada adentraram a água para manter as cortiças na superfície, pois em pouco tempo haveria o estouro da enorme manta de tainha.
Era preciso impedir que as cortiças mergulhassem muito, pois caso contrário parte do cardume sairia por cima, sem o menor esforço.

O nervosismo tomou conta daqueles homens cansados e maravilhados com a bela pescaria que poderiam ter, mas com medo de que a rede não resistisse ao cardume que haviam cercado.
Todos esperavam ansiosos pelo estouro das tainhas. Seria algo inesquecível. Milhares de peixes saltando quase simultaneamente, criando uma verdadeira cortina de água prateada. Seria a última tentativa destes belos peixes na busca da liberdade.

Repentinamente, como se tivessem combinado, os peixes enveredaram para à praia saltando em todas as direções; com a mesma velocidade se lançaram contra a rede criando uma densa nuvem de vapor prateado. As cortiças desapareceram sobre as águas passando sobre as mesmas, milhares de peixes.

Seu Joaquim ordenou que soltassem um pouco as cordas, para que a rede não rebentasse, e que não se importassem com os peixes que ganhavam à liberdade. Puderam perceber que na segunda rede o fenômeno se repetia. A situação durou certo tempo, só não sendo maior, porque a rede estava abarrotada de tainhas, que mal podiam se movimentar e logo começaram a cansar.

Não havia como arrastar a rede praia acima. Era preciso tirar o maior volume de peixe possível, para poder realizar esta tarefa.
A experiência do seu Joaquim mais uma vez foi decisiva.
Erguendo a voz ordenou: peguem os balaios e encham de peixes despejando-os na parte de cima da praia, próximo aos combros de areias, senão não conseguiremos tirar a rede da água. Continuando: sustentem a rede onde está. Os demais sejam rápidos na retirada das tainhas.

As ordens foram executadas por l2 homens, que em pares, enchiam os balaios e os levavam ao local previamente combinado.
Ficaram quase duas horas fazendo este cansativo serviço, com o revezamento entre os diversos camaradas da parelha de pesca.

Na região não moravam outros homens que pudessem ajudar. Ao final deste tempo, já se formava um volumoso monte com alguns milhares de peixes.

- Agora. A voz ecoou forte e segura, como que eletrizando aqueles homens.
Num esforço intenso puxaram com rigor a rede, arrastando-a praia acima.
Lentamente, mas de maneira firme, a rede foi saindo da água com milhares de tainhas em seu interior. Mais uma vez foram alguns homens solicitados a removerem, com balaios parte do pescado que se amontoava junto à linha da água.
Finalmente conseguiram, depois de muitas horas de trabalho duro, colocar as duas redes em terra.
O volume de tainhas pescadas era muito maior que o esperado. Segundo os entendidos passava de trinta mil peixes!

Cansados os homens se jogaram no chão para descansarem um pouco, pois os esperava outra tarefa nada fácil. Teriam que escalar, cada um, centenas de peixes, que lhes tocaria, proporcionalmente ao papel desempenhado na parelha de pesca.
Ao dono da parelha caberia cinqüenta por cento, ao demais o restante, conforme acerto previamente feitos entre os participantes.

Uma coisa era certa, cada um levaria tantas tainhas quantas pudessem carregar, pois havia tanto peixe, que parte dele seria enterrado após tirarem à ova.

Uma fartura que o homem açoriano ergueu os olhos aos céus e agradeceu a Deus ter vindo para esta terra de comida farta.

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