Parte 6: As Delícias da Terra Prometida
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A fonte realmente estava lotada.
Em cada lavador se debruçava uma mulher, a lavar roupas, enquanto outras ao redor conversavam.
Surpresa Dona Isabel reconheceu entre as mulheres presentes sua comadre Conceição.
Não se contendo foi em sua direção. As duas se abraçaram. Copiosas lágrimas rolaram. Eram lágrimas de alegria, do reencontro após meses a bordo de navios separados.
Pegou-a pela mão e se dirigindo a Dona Maria, falou: Maria, esta é a minha comadre Conceição vizinha de porta lá no Faial.
- Muito contente em conhecê-la. Completando: que bom que se encontrei! Prosseguiu falando Dona Maria: Não é da minha conta, mas na casa de quem a senhora está hospedada?
Na casa do seu Joaquim e da dona Maroca.
- Ah! É gente boa, honesta e trabalhadeira. Vão se entender muito bem.
A conversa prosseguiu animada, participando outras mulheres que estavam na fonte.
Era o primeiro grande encontro coletivo das mulheres açorianas recém chegadas com as moradoras de Desterro. Transcorria de forma alegre e interessante. Procuravam se entender, ainda que as conversas fossem difíceis, devido às diferenças do sotaque, ainda que todas falassem o português.
Dona Maria e Dona Isabel permaneceram na fonte por mais de uma hora, tempo suficiente para lavarem e estenderem as roupas no pasto.
O pasto e varais estavam repletos de roupas dos mais variados feitios e cores, mostrando a multiplicidade cultural que se fazia presente.
Retornaram a casa por outro caminho. Dona Maria fez questão de mostrar a sua visitante à outra extrema da propriedade, onde ficavam as roças e novas variedades de frutas.
- Dona Isabel, vou mostrar a plantação de mandioca, que usamos para fazer farinha e outras comidas.
- Tenho muito gosto. Preciso conhecer e amar esta terra, onde repousarei os meus ossos e meus familiares viverão pelas próximas gerações, falou Dona Isabel emocionada.
E lá se foram, percorrendo a trilha estreita junto à cachoeira, ora por baixo de árvores frondosas, ora por descampados, onde estavam as roças.
Passaram por debaixo de uma anogueira cujos frutos se espalhavam pelo chão.
- Olhe senhora: falou Dona Isabel.
- O que a senhora viu de tão interessante?
- Estas bagas, são iguais as que existem no Faial. A gente fazia sabão e óleo para as lamparinas.
- Aqui também fizemos sabão e usamos o óleo.
- Que bom, já encontramos algo em comum aos Açores e a Ilha de Santa Catarina, completou Dona Isabel.
Prosseguiram na caminhada. Passaram por uma roça de milho, repleta de gordas espigas, prontas para serem colhidas, sem que a açoriana fizesse qualquer comentário.
- Espere, por favor, pediu Isabel.
Dona Maria parou.
- Isabel prosseguiu: que plantação é aquela ali? E apontou com o braço na direção das plantas.
- É uma roça de mandioca. Não conhece? Foi a indagação feita por Maria.
Isabel balançou a cabeça negativamente.
-Vamos entrar na roça, convidou Dona Maria. Quero te mostrar uma rama de mandioca e suas raízes.
Não foi preciso repetir o convite, e Isabel já a estava seguindo.
Entraram na roça. As ramas de mandioca estavam bastante viçosas, da altura de um homem, o que fez com que ficassem sumidas entre as mesmas.
- Cuidadosa Dona Isabel perguntou: É das ramas que se faz farinha?
- Não. Destas ramas se tiram as mudas para o novo plantio. A farinha é feita de raízes que estão debaixo da terra. Espere que já vou mostrar. Dito isto Dona Maria segurou com força uma rama e puxou. Nada conseguiu. Pediu ajuda da sua acompanhante.
Fazendo muita força conseguiram tirar a rama com duas raízes, de tamanho razoável. Havia ficado no interior da terra mais três raízes explicou Dona Maria, indicando os locais onde estas raízes se prendiam à rama.
Prosseguiu com a explicação: da raiz é tirada a casca (capote), depois é ralada até ficar uma massa, que se põe no tipiti para tirar a água e tornar a massa seca. Depois esta massa é esfarelada e peneirada. Só após estes trabalhos é que se pode fazer a farinha, torrando a massa no fogo.
Sabe, este alimento foi aprendido dos índios pelos primeiros moradores do litoral catarinense.
- Obrigado, disse Isabel. Quero aprender a fazer a farinha de mandioca e outras coisas gostosas que vocês fazem com ela.
- A senhora vai aprender só que não neste tempo. A farinha de mandioca boa só é feita nos meses que não têm erre: maio, junho, julho e agosto.
É uma época de muita lida. Se faz “serão” até altas horas da noite. Também é uma época muito divertida. Nos engenhos, que é onde se faz a farinha se canta, se conversa e até se namora.
Prosseguiram a caminhada.
- Dona Maria percebeu que já era perto do meio-dia e falou: temos que apressar o passo, pois está na hora de fazer o almoço. A estas horas, e olhou o sol quase a pino, o meu marido já deve ter chegado do mar, trazendo peixe fresquinho.
E lá se foram em direção à residência.
Em cada lavador se debruçava uma mulher, a lavar roupas, enquanto outras ao redor conversavam.
Surpresa Dona Isabel reconheceu entre as mulheres presentes sua comadre Conceição.
Não se contendo foi em sua direção. As duas se abraçaram. Copiosas lágrimas rolaram. Eram lágrimas de alegria, do reencontro após meses a bordo de navios separados.
Pegou-a pela mão e se dirigindo a Dona Maria, falou: Maria, esta é a minha comadre Conceição vizinha de porta lá no Faial.
- Muito contente em conhecê-la. Completando: que bom que se encontrei! Prosseguiu falando Dona Maria: Não é da minha conta, mas na casa de quem a senhora está hospedada?
Na casa do seu Joaquim e da dona Maroca.
- Ah! É gente boa, honesta e trabalhadeira. Vão se entender muito bem.
A conversa prosseguiu animada, participando outras mulheres que estavam na fonte.
Era o primeiro grande encontro coletivo das mulheres açorianas recém chegadas com as moradoras de Desterro. Transcorria de forma alegre e interessante. Procuravam se entender, ainda que as conversas fossem difíceis, devido às diferenças do sotaque, ainda que todas falassem o português.
Dona Maria e Dona Isabel permaneceram na fonte por mais de uma hora, tempo suficiente para lavarem e estenderem as roupas no pasto.
O pasto e varais estavam repletos de roupas dos mais variados feitios e cores, mostrando a multiplicidade cultural que se fazia presente.
Retornaram a casa por outro caminho. Dona Maria fez questão de mostrar a sua visitante à outra extrema da propriedade, onde ficavam as roças e novas variedades de frutas.
- Dona Isabel, vou mostrar a plantação de mandioca, que usamos para fazer farinha e outras comidas.
- Tenho muito gosto. Preciso conhecer e amar esta terra, onde repousarei os meus ossos e meus familiares viverão pelas próximas gerações, falou Dona Isabel emocionada.
E lá se foram, percorrendo a trilha estreita junto à cachoeira, ora por baixo de árvores frondosas, ora por descampados, onde estavam as roças.
Passaram por debaixo de uma anogueira cujos frutos se espalhavam pelo chão.
- Olhe senhora: falou Dona Isabel.
- O que a senhora viu de tão interessante?
- Estas bagas, são iguais as que existem no Faial. A gente fazia sabão e óleo para as lamparinas.
- Aqui também fizemos sabão e usamos o óleo.
- Que bom, já encontramos algo em comum aos Açores e a Ilha de Santa Catarina, completou Dona Isabel.
Prosseguiram na caminhada. Passaram por uma roça de milho, repleta de gordas espigas, prontas para serem colhidas, sem que a açoriana fizesse qualquer comentário.
- Espere, por favor, pediu Isabel.
Dona Maria parou.
- Isabel prosseguiu: que plantação é aquela ali? E apontou com o braço na direção das plantas.
- É uma roça de mandioca. Não conhece? Foi a indagação feita por Maria.
Isabel balançou a cabeça negativamente.
-Vamos entrar na roça, convidou Dona Maria. Quero te mostrar uma rama de mandioca e suas raízes.
Não foi preciso repetir o convite, e Isabel já a estava seguindo.
Entraram na roça. As ramas de mandioca estavam bastante viçosas, da altura de um homem, o que fez com que ficassem sumidas entre as mesmas.
- Cuidadosa Dona Isabel perguntou: É das ramas que se faz farinha?
- Não. Destas ramas se tiram as mudas para o novo plantio. A farinha é feita de raízes que estão debaixo da terra. Espere que já vou mostrar. Dito isto Dona Maria segurou com força uma rama e puxou. Nada conseguiu. Pediu ajuda da sua acompanhante.
Fazendo muita força conseguiram tirar a rama com duas raízes, de tamanho razoável. Havia ficado no interior da terra mais três raízes explicou Dona Maria, indicando os locais onde estas raízes se prendiam à rama.
Prosseguiu com a explicação: da raiz é tirada a casca (capote), depois é ralada até ficar uma massa, que se põe no tipiti para tirar a água e tornar a massa seca. Depois esta massa é esfarelada e peneirada. Só após estes trabalhos é que se pode fazer a farinha, torrando a massa no fogo.
Sabe, este alimento foi aprendido dos índios pelos primeiros moradores do litoral catarinense.
- Obrigado, disse Isabel. Quero aprender a fazer a farinha de mandioca e outras coisas gostosas que vocês fazem com ela.
- A senhora vai aprender só que não neste tempo. A farinha de mandioca boa só é feita nos meses que não têm erre: maio, junho, julho e agosto.
É uma época de muita lida. Se faz “serão” até altas horas da noite. Também é uma época muito divertida. Nos engenhos, que é onde se faz a farinha se canta, se conversa e até se namora.
Prosseguiram a caminhada.
- Dona Maria percebeu que já era perto do meio-dia e falou: temos que apressar o passo, pois está na hora de fazer o almoço. A estas horas, e olhou o sol quase a pino, o meu marido já deve ter chegado do mar, trazendo peixe fresquinho.
E lá se foram em direção à residência.
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