Parte 4: A Noite de Reis
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A noite chegou, trazendo quase completa escuridão à vila. A lua nova fazia contrastar o negror do céu, com o brilho das estrelas. A temperatura agradável em nada lembrava a noite de Reis nos Açores.
Em muitas casas da vila de Desterro, havia aumentado naquela noite de 06 de Janeiro de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1748, significativamente o número de moradores. Hóspedes desconhecidos, vindos de terras distantes, pertencentes ao Reino de Portugal. Diziam ser dos Açores, pequenas ilhas no meio do terrível Oceano Atlântico.
Seu João de Souza e dona Maria Conceição haviam concordado em receber em sua casa, a família Silveira.
Seu Manoel da Silveira, sua mulher dona Isabel, seus filhos: Maria de 10 anos, Joaquim de 08 anos e Rosária de 02 anos.
Ao chegarem seus hóspedes, falaram pouco, preferindo se recolher ao quarto de dormir. Nem sequer quiseram “cear” alegando que já haviam feito a refeição antes de sair do barco.
Os hóspedes se aquietaram. Na escuridão, com certeza, estavam a pensar como se entenderiam com seus benfeitores. Vencidos pelo cansaço logo dormiram as crianças. Dona Isabel, no entanto, na cama montada às pressas no chão, não conseguia conciliar o sono. Seus pensamentos vagavam. Lembrava-se que era noite dos Santos Reis. Agradecia a Deus por ter chegado sua família com saúde, ao mesmo tempo, que pedia ajuda para enfrentar a nova situação que em nada correspondia ao prometido. Estavam em casa de estranhos, que bondosamente os havia recebido. Parecia sentir o sacolejar do navio e assim dormiu.
Seu João e Dona Maria, não menos irrequietos, cochichavam em seus aposentos de como seria a convivência com os estranhos, que falavam de maneira tão engraçada, mas que se entendiam a maior parte das coisas que diziam.
- Maria, falou João.
- Sim, João, o que foi?
- Escutastes algum barulho depois que os estranhos se deitaram?
- Mulher: como vamos fazer para conversar com eles sobre a situação de estarem morando aqui em casa, para poder saber como estão acostumados a viver, e como viveremos juntos nos próximos meses?
- João deixa que eu fale com ela primeiro, já que o marido está dormindo no barco.
- Ta certo, mulher. Agora vamos dormir.
Amanhecia o dia. Os galos a cantarem, anunciavam a aurora matinal. Nas casas como de costume iniciavam-se as atividades domésticas.
Seu João, como muitos homens que viviam da pesca como principal atividade econômica, á muito tinha saído para o mar. Hoje, precisava realizar uma boa pescaria, pois comeriam em sua casa mais cinco pessoas. Sua família era de quatro pessoas. Portanto, seriam nove a serem alimentados. Junto com o seu Juca, seu parceiro, havia colocado a canoa no mar para pegar as “iscas vivas” que seriam usadas nos espinhéis e linhas, ao raiar do dia.
Dona Maria Conceição, como outras mulheres da vila, iniciava ao raiar do dia sua luta diária. Tirar o leite da vaca, preparar a primeira refeição, varrer o quintal, lavar a roupa e buscar água na fonte, preparar o pão, escamar os peixes, alimentar as galinhas e porcos, varrer e arrumar a casa. Assim, bem cedo estava de pé, tomando todo o cuidado para não acordar os estranhos.
No leito, Dona Isabel havia acordado, às primeiras luzes do amanhecer, talvez influenciada pela claridade que a muito não conheciam na hora certa. A situação a fazia lembrar do seu dia a dia no Faial, lá na freguesia dos Cedros.
Perguntava-se: como teria sido a noite de seu marido e das outras tantas mulheres, crianças e homens que haviam feito à perigosa travessia? Por certo, as mulheres e crianças que estavam hospedadas em outras casas tinham tido comportamento semelhante.
Receosa mantinha-se na cama, até que a dona da casa tomasse a iniciativa de chamá-la.
Nem mesmo os miúdos e raparigas tão faceiros pela manhã, arriscavam-se a abandonar a cama nas primeiras horas do dia.
O tempo passava. Era hora de conhecer os moradores de Desterro. Seus costumes, forma de viver e de ser. Quem sabe, seriam grandes amigos, pois pelo que pode verificar tinham uma maneira de vida muito parecida com a que levavam. Isto era bom. E ao pensar nisso, animou-se e começou a levantar.
Abriu a porta do quarto cuidadosamente, e foi se achegando a cozinha.
- Dona, a chamou. Repetiu a chamada.
- Já vou, respondeu.
Passadas apressadas e, em poucos minutos, apareceu dona Maria com um rosto alegre, a sorrir, onde havia um misto de curiosidade e simpatia. Cumprimentando-a, perguntou:
- Dormiu bem?
- Sim, obrigado.
Estava quebrado o gelo. De agora em diante, só Deus sabia o que iria acontecer. A primeira noite na nova terra havia sido de repouso, mas também de ansiedade. Que os Santos Reis Magos os protegesse e ajudasse.
A noite chegou, trazendo quase completa escuridão à vila. A lua nova fazia contrastar o negror do céu, com o brilho das estrelas. A temperatura agradável em nada lembrava a noite de Reis nos Açores.
Em muitas casas da vila de Desterro, havia aumentado naquela noite de 06 de Janeiro de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1748, significativamente o número de moradores. Hóspedes desconhecidos, vindos de terras distantes, pertencentes ao Reino de Portugal. Diziam ser dos Açores, pequenas ilhas no meio do terrível Oceano Atlântico.
Seu João de Souza e dona Maria Conceição haviam concordado em receber em sua casa, a família Silveira.
Seu Manoel da Silveira, sua mulher dona Isabel, seus filhos: Maria de 10 anos, Joaquim de 08 anos e Rosária de 02 anos.
Ao chegarem seus hóspedes, falaram pouco, preferindo se recolher ao quarto de dormir. Nem sequer quiseram “cear” alegando que já haviam feito a refeição antes de sair do barco.
Os hóspedes se aquietaram. Na escuridão, com certeza, estavam a pensar como se entenderiam com seus benfeitores. Vencidos pelo cansaço logo dormiram as crianças. Dona Isabel, no entanto, na cama montada às pressas no chão, não conseguia conciliar o sono. Seus pensamentos vagavam. Lembrava-se que era noite dos Santos Reis. Agradecia a Deus por ter chegado sua família com saúde, ao mesmo tempo, que pedia ajuda para enfrentar a nova situação que em nada correspondia ao prometido. Estavam em casa de estranhos, que bondosamente os havia recebido. Parecia sentir o sacolejar do navio e assim dormiu.
Seu João e Dona Maria, não menos irrequietos, cochichavam em seus aposentos de como seria a convivência com os estranhos, que falavam de maneira tão engraçada, mas que se entendiam a maior parte das coisas que diziam.
- Maria, falou João.
- Sim, João, o que foi?
- Escutastes algum barulho depois que os estranhos se deitaram?
- Não. Coitados devem estar dormindo, pois estavam muito cansados.
- Mulher: como vamos fazer para conversar com eles sobre a situação de estarem morando aqui em casa, para poder saber como estão acostumados a viver, e como viveremos juntos nos próximos meses?
- João deixa que eu fale com ela primeiro, já que o marido está dormindo no barco.
- Ta certo, mulher. Agora vamos dormir.
Amanhecia o dia. Os galos a cantarem, anunciavam a aurora matinal. Nas casas como de costume iniciavam-se as atividades domésticas.
Seu João, como muitos homens que viviam da pesca como principal atividade econômica, á muito tinha saído para o mar. Hoje, precisava realizar uma boa pescaria, pois comeriam em sua casa mais cinco pessoas. Sua família era de quatro pessoas. Portanto, seriam nove a serem alimentados. Junto com o seu Juca, seu parceiro, havia colocado a canoa no mar para pegar as “iscas vivas” que seriam usadas nos espinhéis e linhas, ao raiar do dia.
Dona Maria Conceição, como outras mulheres da vila, iniciava ao raiar do dia sua luta diária. Tirar o leite da vaca, preparar a primeira refeição, varrer o quintal, lavar a roupa e buscar água na fonte, preparar o pão, escamar os peixes, alimentar as galinhas e porcos, varrer e arrumar a casa. Assim, bem cedo estava de pé, tomando todo o cuidado para não acordar os estranhos.
No leito, Dona Isabel havia acordado, às primeiras luzes do amanhecer, talvez influenciada pela claridade que a muito não conheciam na hora certa. A situação a fazia lembrar do seu dia a dia no Faial, lá na freguesia dos Cedros.
Perguntava-se: como teria sido a noite de seu marido e das outras tantas mulheres, crianças e homens que haviam feito à perigosa travessia? Por certo, as mulheres e crianças que estavam hospedadas em outras casas tinham tido comportamento semelhante.
Receosa mantinha-se na cama, até que a dona da casa tomasse a iniciativa de chamá-la.
Nem mesmo os miúdos e raparigas tão faceiros pela manhã, arriscavam-se a abandonar a cama nas primeiras horas do dia.
O tempo passava. Era hora de conhecer os moradores de Desterro. Seus costumes, forma de viver e de ser. Quem sabe, seriam grandes amigos, pois pelo que pode verificar tinham uma maneira de vida muito parecida com a que levavam. Isto era bom. E ao pensar nisso, animou-se e começou a levantar.
Abriu a porta do quarto cuidadosamente, e foi se achegando a cozinha.
- Dona, a chamou. Repetiu a chamada.
- Já vou, respondeu.
Passadas apressadas e, em poucos minutos, apareceu dona Maria com um rosto alegre, a sorrir, onde havia um misto de curiosidade e simpatia. Cumprimentando-a, perguntou:
- Dormiu bem?
- Sim, obrigado.
Estava quebrado o gelo. De agora em diante, só Deus sabia o que iria acontecer. A primeira noite na nova terra havia sido de repouso, mas também de ansiedade. Que os Santos Reis Magos os protegesse e ajudasse.
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