14 setembro, 2007

Parte 2: O Desembarque

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A movimentação no tombadilho do navio era intensa: Arcas, baús, sacos e toda a sorte de “tralhas” iam sendo amontoados, de forma ordeira, sob o olhar vigilante dos próprios donos.

Por toda a parte da grande embarcação se movimentavam homens ansiosos. O nervosismo, a curiosidade e o imenso desejo de pisar a terra-firme aumentava o caos reinante entre aqueles sonhadores atlânticos.

Ordens e contra-ordens eram dadas. Alguns daqueles homens oravam fervorosamente a Deus por terem chegado ao destino. Os sofrimentos estampados nos rostos, rogavam paz. Haviam perdido familiares na travessia cuja sepultura tinha sido o grande oceano. Enfim, que Deus os protegesse nesse novo e promissor mundo.

O capitão das Ordenanças, após confabular com os oficiais da terra, inteirou-se das providências que teria que tomar junto a sua gente.

As condições em que seria alojado seu povo não eram das melhores. Segundo informações, as ordens que deveriam ter chegado do Rio de Janeiro, preparando o desembarque em condições adequadas, haviam atrasado. Não tinha havido tempo de construir as cabanas que hospedariam em Desterro os Açorianos, até que fossem transferidos para os locais designados e então se estabelecessem em definitivo.

Pensou. Tudo se arranjaria. Em poucos dias todos estariam em condições trabalhar, plantando suas roças para sustentar os seus, até que pudessem se assentar com bens de raiz.

Tomou o escaler, remando para o navio. Atracou, subiu rapidamente a escada até o tombadilho.

Todos o aguardavam ansiosos, silenciosos, como prevendo notícias pouco agradáveis.

Seu semblante calmo, porém revelando certa contrariedade, os exasperava mais ainda. Era sinal de que algo estava errado, o que seria?

Passou no meio das fileiras de homens, seguindo silenciosos para a cabine do comandante. Já havia dado ordem para que seus oficiais e “homens bons” se apresentassem imediatamente à cabine de comando para uma reunião.

Bateram à porta.

- Entrem. A porta está aberta, falou o Capitão.

Tirando os chapéus de palha, foram os homens adentrando o apertado camarote, tendo a frente o seu padre. Em torno de 20 homens, alguns idosos, outros mais jovens se aglomeravam no pequeno recinto, aguardando o pronunciamento do capitão.

- Senhores: temos alguns problemas que precisamos resolver imediatamente. Gostaria de contar com o apoio e empenho de todos. Explicou as dificuldades surgidas, concluindo: Graças ao Bondoso Pai supremo chegamos ao destino, sem maiores problemas. Considerando o elevado número de pessoas e o tempo em que tivemos que permanecer no mar, foi uma viagem bem sucedida. Portanto, a união de todos e o trabalho é fundamental, a que nos respeite por nossos próprios valores. Vamos colaborar no que for possível, esquecendo alguns aborrecimentos, pois precisamos viver bem com quem nos acolhe e divide conosco seus pertences. Até onde pude perceber é gente tão simples como a nossa, sem riquezas materiais, mas almas tementes a Deus.
A vila é pequena, suas residências são insuficientes para abrigar todos nós. Somos quase 400 pessoas, enquanto na vila vivem pouco mais de 300 indivíduos adultos. Até que se construam grandes casas para se abrigar as famílias, vamos dividir o nosso pessoal da seguinte forma: os homens continuarão alojados no navio após fazerem uma grande limpeza e troca da água. As mulheres, crianças, o vigário e os oficiais serão alojados nas casas de famílias, igreja e fortes. Tão logo fiquem prontas às cabanas, serão todos transferidos para a vila de onde se deslocarão já nos próximos dias para os locais onde se fixará o nosso povo. Lá, dividirão as propriedades, derrubarão a mata, preparando o terreno para o plantio. Depois iniciarão a construção das suas casas, para levarem os seus familiares.

- Alguma pergunta?

- Capitão como viveremos até podermos plantar, já que o alimento que trouxemos está no fim?

- Isto já está acertado. Cada família que hospedar os nossos também ajudará na alimentação até que chegue a ajuda prometida por El Rei. Organizem seus pertences e conversem com suas mulheres para se prepararem para o desembarque imediato.

Todos obedecerão às ordens do Tenente Mello que está com a lista de desembarque e local de alojamento. E continuou: Os homens acompanharão seus familiares até a morada onde ficarão alojados. Não se esquecem de cumprimentar o dono da casa antes de voltar ao navio. Finalizando: estou seguindo para a ponte com meus familiares. Os encontrarei amanhã pela manhã. Até logo.

E lá se foi o Capitão, deixando atrás de si homens agitados, desejosos de colocar os pés na terra prometida.

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