07 setembro, 2007

Parte 1: Os açorianos estão chegando

Os açorianos estão chegando!
A notícia se espalhou como o vento. De boca, em boca, chegou a cada recanto da Vila de Desterro.

A curiosidade animou os pacatos moradores da Ilha de Santa Catarina, naquela manhã ensolarada do ano de nosso Senhor Jesus Cristo de 1749.

Dos mais variados pontos, percorrendo caminhos estreitos e tortuosos, os moradores se dirigiram para o ponto de desembarque, em frente à praça da igreja matriz.

Lá no meio do mar, o barco de grande porte começara a manobrar, procurando o ponto ideal para lançar ‘ferros’.

Os passageiros foram alertados pelos marinheiros que a viagem estava chegando ao fim.

O nervosismo se tornou geral. Nos camarotes onde estavam alojadas as mulheres e crianças passou a reinar intensa atividade.

As muradas da imponente embarcação estavam repletas de homens cansados e curiosos, a olhar aquela imensa área verde, ainda pôr povoar. Cada qual, imaginando como realizar seus sonhos, acalentado nas sofridas noites da longa travessia, para eles, pôr mares até então desconhecidos.

Chegaram. O que os esperava?

Tinham entrado à barra norte durante a noite, aproveitando as condições favoráveis do vento norte e da forte maré de enchente. Nas conversas rápidas, concluíram ser a povoação pequena.

As primeiras construções, com suas chácaras e roças podiam ser facilmente observadas. Pouca gente morava aqui, com certeza, pois já haviam passado pela segurança do Forte de Santana, e chegaram a frente à matriz; onde a guisa de praça havia uma grande área roçada, em cujas laterais estavam construídos os prédios mais significativos. Melhor visão não precisava, para quem trazia poucos haveres, e muitos sonhos pôr realizar. A existência de grandes áreas de terras virgens apontava a esperança de dias felizes.

A conversa avançou para outros enfoques, até que foram tocados alguns pontos cruciais: quem eram estes habitantes? Como os receberiam? De que maneira viveria nos primeiros tempos, se o governo não cumprisse as promessas feitas? Que terras lhes caberiam na imensidade daquelas florestas que avistavam?

Uma certeza tinha: confiavam em Deus. Este nunca os havia faltado, mesmo nas horas mais difíceis da travessia. Portanto, lutariam com todas as suas forças, para garantir a sobrevivência dos seus familiares, e a realização dos sonhos a muito acalentado, de ser dono do próprio nariz. Mas algum tempo e o encontro, frente a frente se realizaria. Que Deus os protegesse.

Os botes que os levariam a terra começaram a ser baixados. Lá na praia, também começaram a se mover embarcações movida a remo.

Houve ligeiro movimento no convés. Pessoas se acotovelavam, para criar um estreito corredor. Todos sabiam o porquê. Lá no fundo, vindo do camarote dos oficiais, surgiu todo engalanado com as insígnias de Capitão-de-Ordenança, aquele que fora designado pela Câmara de Angra do Heroísmo para comandar aquela leva de imigrantes.

O capitão era respeitado. Embora não tivesse sido necessário exercer, tinha poderes ilimitados sobre todos, enquanto durasse a travessia, e isto ninguém esquecia.

Chegou à ponte, junto à escada, que serviria para passar ao bote. Sério, compenetrado, olhou em direção a praia onde, um bom número de pessoas se aglomerava. Era seu dever, desembarcar, com seus oficiais em primeiro lugar para saudar as autoridades locais. Somente depois de acertar alguns detalhes, seriam desembarcados os demais viajantes.

Ciente de suas responsabilidades desceu rapidamente a escada, alojando-se, com sua oficialidade, no bote já preparado para conduzi-los até a praia.

- Remar. A ordem foi dada. A embarcação se pôs em movimento, proa apontada para o pequeno trapiche, próximo ao qual, com certeza, estavam autoridades e curiosos.

A distância diminuía 100 metros, 50 metros, 20 metros, finalmente o trapiche. Iria pisar pela primeira vez a terra prometida aos seus comandados.

Ao longe, o disparo de uma peça de artilharia, saudando os viajantes. Sorriu. O sinal indicava que eram bem vindos.

Adiantando-se a outros indivíduos em fardas, caminhando pelo trapiche em direção a um oficial graduado com os galões de coronel do exército de linha de Portugal.

- Em nome de sua Majestade seja bem vindo à nova terra, saudou o coronel.

- Obrigado. A terra é linda e viçosa como nos foi prometida. Em nome do povo dos Açores, eu os saúdo. E que Deus nos ajude a colaborar na grandeza destas terras para o Nosso Senhor, sua Majestade, D. João V.

- Assim espero, e farei tudo o que puder, foi a resposta.

- Peço instruções para o desembarque do meu pessoal, temos mulheres e crianças que precisam de cuidados, pois estão fracos, devido à falta de sol, alimentação e água fresca.

- O local já foi definido. Os oficiais tratarão dos detalhes de alimentação e hospedagem dos seus. Amanhã conversaremos para resolver os problemas do assentamento das famílias na área da Lagoa, atrás do morro, que fica na parte da ilha, lugar muito bonito.

- Sim senhor, coronel. Peço autorização para acompanhar o desembarque dos meus familiares.

- Concedido. Até amanhã. E, retirou-se em direção a sede administrativa da Capitania.

Marcadores:

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

A melhor forma de ensinar história é com história!

*esperando a próxima
@@

sexta-feira, 07 setembro, 2007  

Postar um comentário

Página Inicial