28 setembro, 2007

Parte 5: O pão nosso de cada dia

ver parte 4

A casa foi aos poucos sendo aberta, à medida que os visitantes se levantavam.

A mesa para a refeição da manhã estava posta. Leite, garapa fervida, pão, broa, peixe frito, farinha de mandioca.

Dona Isabel e as crianças ainda ressabiadas, após lavarem o rosto foram convidadas para se assentar à mesa.

- Fique a vontade, como se fosse a sua casa, falou dona Maria.

- Tenho muito gosto em estar em sua casa. Agradeço a Deus de conhecê-la, que a senhora receba em dobro o que está fazendo por nós.

- Prove a comida. Diga-me se gosta, foi o pedido feito pela dona Maria.

A açoriana pegou o pão, leite e deu às crianças.

Olhou em seguida para os pratos onde estavam colocados as bananas fritas, o peixe frito e a farinha de mandioca, e não se conteve: O que é isto? Perguntou apontando a farinha de mandioca.

Surpresa, dona Maria a princípio não entendeu a pergunta. Curiosa aproximou-se para explicar o que era e como se comia.

Entendeu que a dita farinha não era conhecida como alimento nos Açores.

Esclareceu a seguir: - olha se como assim.

Pegou o peixe, enrolou na farinha e levou a boca. A seguir segurou a caneca de barro com garapa e tomou um bom gole. Depois, olhou para dona Isabel, fazendo sinal, estimulo-a a provar a farinha de mandioca.

Isabel sorriu. Pegou um pedaço de peixe, passou na farinha comendo lentamente a pequena quantidade que havia ingerido. Repetiu o gesto. Depois meio sem jeito, pegou um pouco de farinha e colocou na boca. Quase se engasgou. Foi socorrida por dona Maria, que lhe bateu às costas e lhe ofereceu um pouco de garapa. Tão atrapalhada estava que tomou a garapa sem perceber que estava bebendo um outro produto que não estava acostumado a usar.

Meio envergonhada falou: gostoso, diferente.

Sorrindo de forma descontraída, estimulou as crianças a imitá-la a comer estes novos alimentos. Pediu permissão á dona da casa, para oferecer uma parte daqueles dois produtos aos miúdos.

Contente pela agradável surpresa, apressou-se em ajudar a preparar as porções para as crianças. Os pratos com peixe e farinha de mandioca foram preparados, acompanhados de canecos de garapa e servidos aos maiores. Ao miúdo só ofertou a garapa e pequenas porções de peixe, sem farinha. Provaram, gostaram e pediram mais.

A família de dona Isabel provavelmente foram os primeiros imigrantes açorianos a provarem a farinha de mandioca, o mais importante alimento existente na Capitania de Santa Catarina. Que seria a sua comida básica e de seus descendentes pelos séculos seguintes.

Feliz, com lagrimas nos olhos, dona Isabel abraçou sua benfeitora, que meio sem jeito retribuiu. Uma grande amizade surgiu simples, mas do fundo do coração.

As crianças foram saindo para o quintal, olhando curiosas ao seu redor.

Dona Isabel e Dona Maria iniciaram a prosa, falando devagar, gesticulando, para se fazerem entender. Á medida que iam se sentindo à vontade conversaram mais rapidamente, falando de coisas simples.

Foram buscar as roupas sujas, para lavarem na fonte. Sempre conversando foram cortando a chácara em direção a fonte.

Curiosa Dona Isabel ia observando as árvores, algumas com frutas. Parou de repente.

- Olha: apontou para uma árvore alta, repleta de bolinhas verdes e pretas grudadas nos galhos e tronco. O que ser isto, perguntou?

- Jabuticaba, disse dona Maria.

- Jabuticaba? Replicou admirada, completando; é boa de comer?

- Sim. Só não pode chupar jabuticaba e beber leite, dá congestão, completou Dona Maria.

Prosseguiram na caminhada. Passaram por uma roça de melancias, que deixou Dona Isabel maravilhada.

Sem se conter indagou: - Dona Maria, se come esta grande baga?

- Clara Dona Isabel. Esta fruta se chama melancia. É encarnada por dentro e seu líquido é bem docinho. Amanhã comeremos uma no almoço, pois é preciso colocá-la na água da cachoeira ou poço, para ficar bem fresquinha. Se a gente comer quente do sol, tirada direto da roça, pode fazer mal. Congestão de melancia é um perigo. A barriga fica toda empedrada.

- Vou esperar para provar se é gostosa. A mandioca e a garapa são.

Continuaram a conversar até chegarem à fonte, onde outras mulheres, já estavam lavando roupas, algumas açorianas entre elas. Realizava-se naquele local de trabalho, o primeiro encontro coletivo das mulheres açorianas e desterrenses. Estes açorianos se integravam de maneira natural no dia a dia da comunidade desterrense, a que todos passaram a habitar.

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1 Comments:

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sexta-feira, 03 maio, 2013  

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