24 outubro, 2007

Parte 7: Alimentos unindo dois povos

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A Caminhada até a residência foi rápida. Dona Maria acostumada a fazer aquele roteiro diariamente quase não sentiu os efeitos do sol forte de verão. Já sua companheira, que nesta época do ano, enfrentava no Faial, baixas temperaturas sentiu bastante.

Sentaram-se a sombra do abacateiro para descansar, tendo aproveitado dona Maria para servir um pouco de água fresca a sua visitante.

Seu marido acabava de chegar. Trazia o “balaio de mandioca” repleto de pescados. Duas grandes corvinas, quatro bagres do corso, algumas cocorocas gradas, uma viola do corso, já limpa e em postas. Também trazia o samburá repleto de camarões, quase todos vivos.

Dona Isabel ficou surpresa com a variedade dos pescados, que lhes eram desconhecidos, inclusive os camarões.

Para agradar à visita, dona Maria solicitou a esta, que escolhesse qual o pescado que desejaria saborear. Meio sem jeito, dona Isabel apontou o bagre, talvez, por ser o mais estranho dos peixes.

- Soube escolher bem. Vou preparar uma gostosa moqueca, que a senhora vai morrer de comer, falou dona Maria.

- Terei muito gosto em comer e aprender a fazer. A senhora me ensina como preparar?

- Claro. Basta prestar atenção de como se prepara o peixe, os temperos certos que deverá usar. A senhora vai perceber que é muito fácil.

Ato contínuo atiçou o fogo, colocando mais algumas achas de lenha, para apressar a fervura da água da chaleira.

Pegou o bagre grande, que deveria pesar uns 3 quilos, começando a quebrar os “esporões” e cortar as “arzeias”. Colocou-o no alguidar, despejando o conteúdo da água fervente sobre este.

O “langanho” que cobria a pele ficou esbranquiçado e endurecido.
Habilmente dona Maria foi raspando com a faca, deixando a pele lisa.
Abriu a barriga do bagre tirando as vísceras.
Cortou o peixe em postas, lavando em água limpa.

Dirigiu-se ao quintal para pegar os temperos que precisava.

- Dona Isabel me acompanhe, quero lhe mostrar quais os temperos que deve usar e como reconhecê-los quando precisar.

- Sim senhora, com muito gosto.

Apanhou cebolinha verde, salsa, orégano e tomate miúdo, se dirigindo à cozinha.

O fogo estava forte gerando calor suficiente para “encalar” o bagre. Despejou um boa colher de banha de porco na panela, deixou ficar bem quente e começou a fritar rapidamente as postas de peixe. Enquanto isto em outra panela já havia colocado a ferver os temperos, acrescentando, sal, pimenta, limão e vinagre de cana. Executou cada etapa lentamente, mostrando à dona Maria como se procedia.

O tempero estava no ponto.

As postas de peixe foram sendo colocadas, uma a uma na panela, cuidando para que absolvessem o tempero. Para isto ocorrer, a quantidade de água colocada era suficiente apenas para cobrir as postas de peixes.

Cuidou, mexendo com a colher de pau, para que as postas de peixes não grudassem na panela. Também era preciso controlar a água, para não secar demais; senão estragaria o ensopado, conhecido por moqueca, quando se tratava de bagre.

Em quinze minutos a moqueca estava pronta.

- Prove. Dito isso, dona Maria ofereceu um pequeno pedaço do peixe a sua amiga açoriana.

- Gostoso, foi a resposta.

O feijão e a moqueca de bagre estavam prontos para serem servidos.

- Vamos sentar a mesa para comer, as crianças já foram servidas. Falou dona Maria.

A refeição típica do ilhéu foi servida e apreciada. Pirão de feijão com moqueca de bagre, acompanhada de aipim cozida e espigas de milho. Ao final da refeição saborearam algumas jabuticabas.

- Amanhã vamos comer camarão ensopado e frito com ovos. Também vou fazer uns bolinhos de aipim com farinha de mandioca e algumas vagens. Para depois do almoço vamos chupar a melancia que te prometi, completando: agora, vamos lavar a louça, para depois escamar os peixes, senão apodrecem, falou dona Maria.

Os peixes após escamados e limpos foram divididos em dois grupos. Os que seriam consumidos no jantar, que foram temperados com alho, limão e sal. Os demais foram “escalados” e salgados, sendo posteriormente pendurados no varal para secarem. Só seriam consumidos quando a “quadra” de pesca fosse ruim.

Dona Isabel observou como era “escalado” e salgado o peixe. Igualzinho fazia lá nos Cedros.

Foi uma tarde quente. No final do dia, já quase ao entardecer, ocorreu uma forte trovoada, com muito vento sul e uma rápida chuva de pedra.

Surpresa, dona Isabel comparou mentalmente, o clima de Santa Catarina com o dos Açores, onde eram comuns as mudanças de tempo de forma brusca.

Já se sentia melhor. Tinha muito a aprender, mas também sabia que ensinaria muito a sua amiga desterrense.

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