01 fevereiro, 2008

Parte 17: Brincadeiras Apimentadas

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A herança açoriana estava consolidada no Litoral Catarinense.
Muitos descendentes, já de terceira geração tinham se adaptado às condições locais de sobrevivência, praticamente esquecidos das práticas da terra mãe.

Foram criados em condições diferentes das do arquipélago dos Açores, refletindo uma maior segurança frente aos desafios impostos pela natureza local, rica em variedades e possibilidades.

A mata densa havia cedido lugar a grandes capões de matos, mostrando que as atividades agrícolas havia se consolidado entre os imigrantes.

As propriedades começavam a tomar contornos definidos.
Seus donos, submetidos nos primeiros tempos a extremas dificuldades, começavam a construir casas confortáveis, semelhantes as que tinham nos Açores.
Eram sinais externos do sucesso obtido com suor, lágrimas e muitas lutas.

As rivalidades entre os diferentes grupos de açorianos fixados ao longo da costa catarinense, resultante das respectivas procedências por comunidades das diferentes ilhas, se cristalizara, formando verdadeiros bolsões de animosidades, que pelos anos seguintes se aprofundaram. A par disto estavam ligados por profundos laços culturais, que os identificavam como uma força única, marca de Santa Catarina.

Lá estavam encostados no balcão da venda do seu Didico homens cansados, mais tranqüilos após mais um dia de trabalho. Tomavam um “trago”, para espantar o frio que fazia naquele final de tarde.
A conversa rolava solta.
Seu Jacinto, homens já idoso, vindo das ilhas, conversava animadamente, relembrando alguns fatos acontecidos nos primeiros tempos na nova terra.

- Se lembra compadre Manoel da briga que deu entre o Joaquim Silveira e o Manoel Santos por causa do rouba da cabrita na passagem do ano?

- Quem não se lembra, foi o maior banzé, até “peixeira” foi usada na confusão. Só não houve morte porque Deus não quis. Que a estória foi gozada, isto foi.

Pedro, jovem já nascido em Santa Catarina, havia tomado conhecimento da estória pela boca de seu pai. Não se contendo falou - dá para repetir o que aconteceu, pois gostaria de conhecer da sua boca, já que o senhor também participou.

Seu Jacinto estreitou os olhos, que brilhavam de satisfação, e começou a contar.
Pois é, foi assim. Era costume já lá nos Açores, se roubar uma ave ou animal na véspera do primeiro do ano, para depois de preparada convidar o dono para ajudar a comer. Quando este elogiasse a comida, lhe era perguntado se não havia sentido falta de certo animal.
Normalmente o dono xingava ,mas levava na brincadeira, descontando no ano seguinte.

Foi por causa de um cabrito que quase deu morte. O Manoel Santos, o filho do tenente Ambrósio de Mello, de nome Pedro, o José Rita, o José Indalécio, o Joaquim Silveira, o Merêncio, o Custódio, o Botelho, o compadre Venâncio e eu decidimos que se ia roubar o cabrito do seu Joaquim, que vivia dizendo que com ele ninguém se arriscaria a roubar uma de suas criações.
Isto ele dizia enquanto comia as criações roubadas de outros.
O José Rita deu a idéia, pedindo que o Manoel Santos se encarregasse de levar o Joaquim para outro lugar, para que pudessem pegar o gordo cabrito, que ficava amarrado perto da casa. Assim foi feito.

O Joaquim tinha ido roubar um peru do Indalécio, acompanhado do Manoel Santos. Como conseguiram, ficaram na manhã seguinte envolvidos na preparação da ave, que foi ensopada com batatas e chuchus; esquecendo-se totalmente de vigiar seus animais.

Perto do sol a pino daquele dia, apareceu o Joaquim na casa do Indalécio convidando-o para jogar dominó e comer um ensopado de peru em sua casa. Convite feito, convite aceito. E lá se foram.
Depois eu conto o resto.

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