Parte 9: Lembrança dos Açores
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A tarde transcorria em harmonia.
As famílias se refrescavam debaixo das frondosas árvores, para fugir do calor.
A conversa era descontraída. Os causos e anedotas rolavam soltos.
E foi neste clima descontraído que dona Isabel resolveu contar suas lembranças do Faial.
- Sabe, dona Maria, vou lhe contar alguma coisa sobre a ilha onde morava, se a senhora me permitir.
- Claro minha amiga terei o maior gosto em escutá-la, até porque estou mesmo curiosa em saber como é o local onde vocês moravam. Fico a me perguntar como tiveram coragem de atravessar o grande mar, para vir morar em lugar tão pobre.
A curiosidade foi despertada entre os presentes.
Começou então dona Isabel o seu relato, antes pedindo ao marido que a ajudasse caso esquecesse alguma coisa importante.
O que eu vou contar, muitas das coisas fiquei sabendo através do tenente Ambrósio de Mello, que é meu compadre e era na Freguesia dos Cedros chefe de “quarteirão”. Homem instruído, procurado pela vizinhança quando surgia algum problema com as autoridades.
O Faial é uma ilha pequena, que fica muito próxima da ilha do Pico. Entre os seus primeiros habitantes se estavam os flamengos, que trouxeram para a ilha, suas experiências no uso dos moinhos de ventos, na renda de bilro, nos teares manuais, no trabalho com o pastel, uma tinta azulada que ainda se usa para tingir os tecidos, como os das saias que estamos usando. E apontou a própria saia e a da filha.
A costa da ilha apresenta “calhaus” muito perigosos. Em certos locais são “ribanceiras” de muitos metros de altura, que torna impossível se chegar ao mar.
As casas estão distribuídas ao longo das “canadas”, com as áreas de cultivo aos fundos, que se estendem até os locais de maior umidade, normalmente regiões elevadas, difíceis de cultura.
O terreno onde fica a casa é chamado de quinta. Nesta área plantamos as frutas, as verduras e flores. Se planta trigo, vagens, couves, laranjeiras, figueiras, batatas, cebolas, inhame e outros produtos.
Na ilha tem a bonita cidade da Horta, que recebe grandes embarcações que percorrem as rotas de comércio da América e do Oriente.
Estive lá algumas vezes. As casas são grandes e bonitas. Se vende de tudo. Local em que se compravam as coisas bonitas, como lenços de seda, objetos de adornos, especiarias, tecidos, ferramentas. Também era onde se levava os produtos que se desejava vender para os navios que iam ao Reino. Segundo o compadre a cidade tem quase 3000 habitantes, muitos deles vindos da Corte e que tem grande posses.
As “freguesias” que sei que existem ainda na ilha do Faial, onde moravam a maior parte das pessoas que vieram para o Brasil, são as de: Pedro Miguel e Praia do Norte que são vizinhos. Depois seguem Capelo, Castelo Branco, Feteira, Angustias, Flamengos, Conceição, Praia do Almoxarife e Ribeirinha e a dos Cedros onde a gente morava.
Segundo o compadre Ambrósio, se alistaram na ilha do Faial para vir para o Brasil centenas de pessoas. Só nesta primeira leva vieram mais de l00 pessoas. Os demais virão aos poucos, nos próximos navios.
Lá, se vivia com grande amizade. Tinha época, que a miséria era grande. Só se unindo todos os vizinhos, é que se conseguia produzir os alimentos que se precisava, se dividindo entre todos o que era conseguido.
As atividades nas roças eram coletivas se moendo o trigo, lá no seu Joaquim. Igualmente a pesca era feita com grandes dificuldades, na maior parte do ano, pois além do mar mudar de uma hora para a outra, só em alguns locais se conseguia colocar as embarcações na água. Se pescando muito de cima do calhau, usando-se caniço e linha de boleio. Alguns peixes como garoupa, sargo, tainha, são iguais os que vi aqui; outros como o goraz e chicharro só vi nos Açores.
A vida era calma. As famílias que moravam próximas eram bastante unidas. Eram quase todos compadres e comadres, se ajudando nas horas boas e ruins. Esta calma só mudava quando dava tempestades e terremotos. Nestas oportunidades ficávamos todos desesperados, sem saber o que poderia acontecer. Faziam-se procissões e se rezava muito, pedindo ao pai do céu e a mãe santíssima que nos protegesse e aos nossos familiares.
Aqui é um paraíso. Deus foi bom em nos permitir chegar até esta terra bendita.
Tenho saudades de minha terra natal, porque lá deixei muitos parentes queridos que nunca mais verei. Quem sabe, algum dia, os nossos filhos e netos possam voltar às ilhas e contar aos descendentes dos que lá ficaram as alegrias e sofrimentos enfrentados pelos açorianos no sul do Brasil, nesta bela ilha de Santa Catarina.
As famílias se refrescavam debaixo das frondosas árvores, para fugir do calor.
A conversa era descontraída. Os causos e anedotas rolavam soltos.
E foi neste clima descontraído que dona Isabel resolveu contar suas lembranças do Faial.
- Sabe, dona Maria, vou lhe contar alguma coisa sobre a ilha onde morava, se a senhora me permitir.
- Claro minha amiga terei o maior gosto em escutá-la, até porque estou mesmo curiosa em saber como é o local onde vocês moravam. Fico a me perguntar como tiveram coragem de atravessar o grande mar, para vir morar em lugar tão pobre.
A curiosidade foi despertada entre os presentes.
Começou então dona Isabel o seu relato, antes pedindo ao marido que a ajudasse caso esquecesse alguma coisa importante.
O que eu vou contar, muitas das coisas fiquei sabendo através do tenente Ambrósio de Mello, que é meu compadre e era na Freguesia dos Cedros chefe de “quarteirão”. Homem instruído, procurado pela vizinhança quando surgia algum problema com as autoridades.
O Faial é uma ilha pequena, que fica muito próxima da ilha do Pico. Entre os seus primeiros habitantes se estavam os flamengos, que trouxeram para a ilha, suas experiências no uso dos moinhos de ventos, na renda de bilro, nos teares manuais, no trabalho com o pastel, uma tinta azulada que ainda se usa para tingir os tecidos, como os das saias que estamos usando. E apontou a própria saia e a da filha.
A costa da ilha apresenta “calhaus” muito perigosos. Em certos locais são “ribanceiras” de muitos metros de altura, que torna impossível se chegar ao mar.
As casas estão distribuídas ao longo das “canadas”, com as áreas de cultivo aos fundos, que se estendem até os locais de maior umidade, normalmente regiões elevadas, difíceis de cultura.
O terreno onde fica a casa é chamado de quinta. Nesta área plantamos as frutas, as verduras e flores. Se planta trigo, vagens, couves, laranjeiras, figueiras, batatas, cebolas, inhame e outros produtos.
Na ilha tem a bonita cidade da Horta, que recebe grandes embarcações que percorrem as rotas de comércio da América e do Oriente.
Estive lá algumas vezes. As casas são grandes e bonitas. Se vende de tudo. Local em que se compravam as coisas bonitas, como lenços de seda, objetos de adornos, especiarias, tecidos, ferramentas. Também era onde se levava os produtos que se desejava vender para os navios que iam ao Reino. Segundo o compadre a cidade tem quase 3000 habitantes, muitos deles vindos da Corte e que tem grande posses.
As “freguesias” que sei que existem ainda na ilha do Faial, onde moravam a maior parte das pessoas que vieram para o Brasil, são as de: Pedro Miguel e Praia do Norte que são vizinhos. Depois seguem Capelo, Castelo Branco, Feteira, Angustias, Flamengos, Conceição, Praia do Almoxarife e Ribeirinha e a dos Cedros onde a gente morava.
Segundo o compadre Ambrósio, se alistaram na ilha do Faial para vir para o Brasil centenas de pessoas. Só nesta primeira leva vieram mais de l00 pessoas. Os demais virão aos poucos, nos próximos navios.
Lá, se vivia com grande amizade. Tinha época, que a miséria era grande. Só se unindo todos os vizinhos, é que se conseguia produzir os alimentos que se precisava, se dividindo entre todos o que era conseguido.
As atividades nas roças eram coletivas se moendo o trigo, lá no seu Joaquim. Igualmente a pesca era feita com grandes dificuldades, na maior parte do ano, pois além do mar mudar de uma hora para a outra, só em alguns locais se conseguia colocar as embarcações na água. Se pescando muito de cima do calhau, usando-se caniço e linha de boleio. Alguns peixes como garoupa, sargo, tainha, são iguais os que vi aqui; outros como o goraz e chicharro só vi nos Açores.
A vida era calma. As famílias que moravam próximas eram bastante unidas. Eram quase todos compadres e comadres, se ajudando nas horas boas e ruins. Esta calma só mudava quando dava tempestades e terremotos. Nestas oportunidades ficávamos todos desesperados, sem saber o que poderia acontecer. Faziam-se procissões e se rezava muito, pedindo ao pai do céu e a mãe santíssima que nos protegesse e aos nossos familiares.
Aqui é um paraíso. Deus foi bom em nos permitir chegar até esta terra bendita.
Tenho saudades de minha terra natal, porque lá deixei muitos parentes queridos que nunca mais verei. Quem sabe, algum dia, os nossos filhos e netos possam voltar às ilhas e contar aos descendentes dos que lá ficaram as alegrias e sofrimentos enfrentados pelos açorianos no sul do Brasil, nesta bela ilha de Santa Catarina.
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