17 janeiro, 2009

Um Sonho Açoriano

Convidado a participar da mesa redonda Herança Açoriana fiquei a pensar que tipo de contribuição poderia dar aos participantes do evento, pois eram muitos os especialistas que estavam se debruçando sobre a temática açoriana, na passagem dos 260 anos da Colonização Açoriana em Santa Catarina.
Conclui que contar um pouco da minha trajetória enquanto pesquisador e fundador do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina seria uma maneira de honrar os inúmeros abnegados que juntos provocamos uma verdadeira revolução no modo de olhar e valorizar os “ valores culturais de base açoriana existentes no litoral de Santa Catarina”.


Isto foi possível graças às informações e relações profissionais e de amizades construídas a partir da vivencia universitária, com professores e colegas da UFSC desde o ano de 1970.

Teoricamente é fácil de conceituar cultura popular e promover sua defesa e valorização. Na prática, exige mais que conceitos teóricos, é preciso se envolver com o chamado “legado cultural” existente, para poder gerar ações concretas de valorização e defesa da cultura de um povo. Entendida, como o “resultado das inúmeras manifestações do saber ser e saber fazer associados aos desafios de sobrevivência da população”.

Descendente em oitava geração dos “casais açorianos” que fundaram no litoral de Santa Catarina, Brasil, a freguesia de Enseadas de Brito em 1750, tenho a vivencia do “legado étnico-cultural açoriano” que se mantém ainda nesta comunidade, como marca cultural local. Vivenciei estas experiências nas décadas de cinqüenta e sessenta do século XX, quando estas manifestações eram mais forte que atualmente.

Ao ingressar na Universidade Federal de Santa Catarina no ano de 1970, como aluno do curso de História, tive a oportunidade de descobrir que era “descendente dos casais açorianos vindos para Santa Catarina no século XVIII”. Foi uma revelação que mexeu profundamente comigo, despertando o desejo profundo de devolver aos descendentes de açorianos do litoral de Santa Catarina “o orgulho pelas suas origens”, que não conheciam como eu, mas que praticavam valores culturais de base açoriana, legado pelos seus antepassados. Jurei na oportunidade que dedicaria parte da minha vida a este projeto.


Era uma época de afirmação das “etnias européias estabelecidas em Santa Catarina”, com maior visibilidade para os descendentes de alemães e em menor escala italianos, em cujo contexto o homem do litoral era pejorativamente tratado de “brasileiro” por estas etnias, como se estes não o fossem.


Ao me interessar pela temática procurei levantar informações e participar de eventos em que estivessem em evidencia a cultura açoriana.
Foi uma grande emoção ter contato e me tornar parte do grupo de pesquisadores que vinham trabalhando a questão açoriana e as relações com o arquipélago dos Açores (Portugal). Os professores Walter Fernando Piazza, Osvaldo Rodrigues Cabral, Osvaldo Ferreira de Mello, Nereu do Vale Pereira, Luiz Carlos Halfpap, Celestino Sachet foram especialistas que comecei a ter contatos e troca de experiências.

Excelentes pesquisadores comprometidos com o meio universitário, onde faziam circular estas informações, dificilmente compartilhando com as comunidades de onde obtinham seus dados.

Como fazer para romper com os muros da universidade e viabilizar a chegada das informações acadêmicas aos moradores do litoral catarinense, estimulando-os o orgulho por suas raízes açorianas?
Criar o NEA - Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina, com uma estrutura de conselho deliberativo com representantes de instituições públicas e privadas responsáveis por políticas culturais que envolvessem a cultura de base açoriana do litoral catarinense.


Foi criado em 1984, sem alma, apenas como referencia universitária, sem que prosperasse em ações efetivas que envolvesse as comunidades litorâneas, pois se limitou a organizar eventos sobre a temática no meio universitário.

Em 1992 tivemos a oportunidade de redimensionar o NEA, com o apoio do então Pró-Reitor de Cultura e Extensão professor Julio Wigger e do Reitor Deomário Queiroz tornando-o uma realidade dinâmica.
Vinculado diretamente a Vice-Reitoria de Cultura e Extensão pode ser organizado com representação que ia além dos departamentos e da UFSC, rompendo com este sistema tradicional de organização de núcleos de pesquisa na UFSC.


Já em 1992 foi formado o Conselho Deliberativo do NEA com a participação de representantes de 30 instituições do litoral de Santa Catarina, distribuídas num raio de 500 km entre prefeituras, universidade regionais, fundações e associações.


A sobrevivência do Núcleo de Estudos Açorianos dependia das respostas que conseguíssemos dar tanto no meio universitário, quanto nas comunidades do litoral catarinense.
Utilizando recursos próprios e apoios da UFSC conseguiu-se despertar o interesse das instituições do litoral catarinense que passaram a freqüentar as reuniões do Conselho Deliberativo do NEA, os mais afastados percorriam mais de 200 km para participar.


O leque de ações proposto pelos conselhos foi ótimo e tem desdobramentos até os dias atuais com ações que já duram 15 anos, sem esmorecer. É sem dúvida um dos núcleos de pesquisa/ extensão universitária mais bem sucedida do Brasil, tendo com suas ações constantes, envolvido um público de milhões de pessoas, seja em eventos, orientações técnicas, apoio ao turismo.
São ações permanentes bem sucedidas:
- Parceria com o Governo Regional dos Açores no desenvolvimento de ações de troca de experiências, com idas de catarinenses ao arquipélago e de açorianos a Santa Catarina;
- Mapeamento da cultura de base açoriana do litoral catarinense, cujo modelo sistêmico e instrumentos de pesquisa de campo, tenho a honra de ser o autor;
- Instituição do AÇOR FESTA – Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina, que já esta na 15 edição, com sua característica de rotatividade ao longo dos municípios do litoral de Santa Catarina;
- Cursos de capacitação para professores em cultura de base açoriana para que possam trabalhar com os alunos a suas origens culturais;
- Divulgação de informações sobre a cultura de base açoriana de Santa Catarina em ponte com os Açores, do qual sou um dos especialistas, com a produção de diversos livros em que esta temática é abordada;
- Organização de um banco de dados, que esta disponibilizando as comunidades as informações pesquisadas;
- O mais importante, a manutenção da alma açoriana, através da valorização e defesa destes valores culturais que estavam em risco de desaparecimento, por vergonha de sua prática.


Faço parte da segunda leva dos especialistas apaixonados pela cultura açoriana, criando a expressão: “cultura de base açoriana” para designar a existente em Santa Catarina da cultura açoriana existente no arquipélago dos Açores, bastante diferente, em relação a existente em nosso estado.


Junto com outros abnegados e visionários, que acreditavam que os estudos universitários deveriam retornar as comunidades, servindo de motivação para a manutenção e revitalização da cultura, bem como base do desenvolvimento regional, afirmo que fizemos à revolução, popularizando as informações sobre a cultura de base açoriana, aproximando o meio acadêmico das comunidades.


Ainda que esquecendo o nome de muitos, quero homenagear a todos ilustres lutadores pela realização deste sonho, na figura dos citados: Joi Cletson, Alves, Gelci Coelho(Peninha), Francisco do Vale Pereira, Acir Osmar de Oliveira, Leopoldo Silva, Ana Lucia Coutinho, Andréia Krauvtz, Sileide Lisboa, Nereu do Vale Pereira, Ruth Nunes.


A missão continua. É preciso avançar com novas realizações sem perder de vista que “a alma do povo é à força da cultura de base açoriana de Santa Catarina; cabendo a terceira geração de pesquisadores/ amantes destes valores culturais, continuar com a saga iniciada em meados do século XX.

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5 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Prof. Faria,
Meu nome é Ivan Marques Guimarães.
Recorrendo à minha ascendência, pude identificar por foto e relatos familiares meu bisavô, José Marques Guimarães Sobrinho, casado com D. Albertina.

Surpreendi-me com a possibilidade de Manoel Marques Guimarães, pai do Contra-Almirante José Marques Guimarães, este último, tio de meu bisavô, ter sido o pioneiros da família, vindo dos Açores e habitando a região de Santa Catarina.

Em face de sua dedicação à História e generosidade, ofereço e-mail ivanmarquesgui@hotmail.com para uma possível confirmação dessa informação, que possa acrescentar nome do irmão do Contra-Almirante José Marques Guimarães, que seja pai de José Marques Guimarães Sobrinho.

quinta-feira, 01 julho, 2010  
Anonymous Anônimo disse...

Prof. Faria,
Tenho a acrescentar ao comentário acima que o nome completo de D. Albertina é sucedido de "Campos Marques Guimarães". E, ainda, que o nome do irmão do Contra-Almirante José Marques Guimarães, pai de meu avô é Lydio Marques Guimarães, como certificado por cópia do registro de nascimento do meu pai, em minha posse.

quinta-feira, 01 julho, 2010  
Anonymous Anônimo disse...

Assim, e sem desejar ocupá-lo além do que lançar mão de alguma informação já disponível em sua literatura ou meio alternativo que seja, restaria confirmar a paternidade de Lydio Marques Guimarães como sendo Manoel Marques Guimarães, filho de Manoel Marques Guimaráes e de Ana Alexandrina de Abreu Guimarães, cujos avós são Manoel Marques Guimaráes e Feliciana Maria do Rosário.

quinta-feira, 01 julho, 2010  
Anonymous Maria disse...

Muito interessante seu artigo
chequei aqui pelo google
estou procurando uma lista de e-mails dos oleiros q fabricam potes
sabe onde encontro?

att
fazendoartereciclando(a)hotmail.com

sábado, 03 setembro, 2011  
Anonymous Anônimo disse...

Muito interessante seu artigo
chequei aqui pelo google
estou procurando uma lista de e-mails dos oleiros q fabricam potes
sabe onde encontro?

att
Maria
fazendoartereciclando(a)hotmail.com

sábado, 03 setembro, 2011  

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