Comparativo de Brasília dos anos oitenta com o ano de 2008 - Uma lição de capacidade humana de transformar o ecossistema (1a parte)
Estive no mês de julho de 2008 na capital do Brasil. Impressões diferenciadas das observadas no ano de 1982.
Algumas paisagens praticamente se mantiveram imóveis, outras sofreram profundas transformações. O mesmo se aplica ao universo do conjunto sociocultural e de infraestrutura observada.
Em 1982 ao chegar em Brasília desembarquei num aeroporto acanhado que se limitava a uma área de embarque de piso térreo, menor que o aeroporto Hercílio Luz em Florianópolis.
A convite do Ministério do Interior estive na capital Federal, pois era diretor do Campus Avançado da Universidade Federal de Santa Catarina, na cidade de Santarém, Estado do Pará. Ao chegar no aeroporto fui transportado em veiculo do ministério à Asa Norte. Um percurso longo praticamente desprovido de qualquer construção em seu trajeto, o que parecia ser mais longe que nos dias atuais, ainda que hoje o transito, dependendo do horário, seja caótico.
O plano piloto de Brasília era um conjunto harmonioso marcado por setores especializados, separados por distâncias consideráveis, em cujos espaços via-se em profusão gramíneas e vegetação arbustívera, o que lhe dava toda a imponência de uma cidade planejada aos mínimos detalhes
As avenidas largas e sem cruzamentos de riscos, em que circulavam volume pequeno de veículos, permitia fácil e rápidos deslocamentos; além de facilitar a que se estacionasse em qualquer ponto da cidade em que isto era autorizado.
A Torre de Televisão de Brasília, com sua imponência de mais de 300 metros de altura, permitindo uma visão panorâmica da cidade, notadamente do plano piloto, causavam profundo impacto aos que visitavam e ainda visitam a cidade pela primeira vez.
Com poucos visitantes ao monumento, subi sozinho de elevador podendo contemplar e fotografar tranqüilamente, a mais de 100 metros de altura, a paisagem visível aos quatro ventos (norte, sul, leste, oeste). Tive sorte que apareceu pouco depois outro solitário visitante, permitindo que pudéssemos nos auxiliar mutualmente em registrar as nossas próprias imagens para a posterioridade. Na época os recursos técnicos das maquinas fotográficas populares eram limitados, reduzindo a capacidade de registrar detalhes.
O Plano Piloto da explanada dos ministérios, com destaque para o Palácio da Alvorada apresentavam-se ainda sem os horrorosos anexos, dando um ar de soberba e harmonia a paisagem, emoldurado pelos gramados que separavam as avenidas e pela vegetação de serrado que se avistava como pano de fundo.
Era uma visão admirável que causou forte impacto a este catarinense que vivia em uma cidade de traços históricos coloniais marcada por ruas estreitas e predomínio de casas térreas.
A Estação Rodoviária de Brasilia era acanhada e próximo ao viaduto do plano piloto, como hoje. Não existia ainda o metro. Circulava banstante gente, mas o risco de ser assaltado, ou importunado por pedintes e desocupados era mínimo.
Circulando pelos arredores do lago Paranoá percebia-se a existencia de espaços enormes por urbanizar, com fácil acesso ao lago. Uma cidade limpa nos bairros próximo ao Plano Piloto.
Não visitei as cidades satélites, pude observa-la do avião. Eram acanhadas, marcadas por construções térreas simples. Pouco densas populacionalmente.
A biblioteca, a casa da cultura ainda não haviam sido construidas, existindo em seus lugares amplos descampados.
Passaram-se 26 anos, uma nova geração havia se formado, com as implicações de uma cidade que se expandiu numa velocidade alucinante.
Com os olhos do historiador acostumado a perceber as transformações do ambiente natural-paisagistico e intervenções humanas neste espaço, fui observando as novas paisagens que se descontivam já das alturas, vistas pela janela do avião.
Ao longo dos anos vinha acompanhando pelos meios de comunicações a explosão urbana de Brasilia e suas cidades satélites, mesmo assim foi uma surpresa observar a extensão dos aglomerados urbanos, do entorno de Brasilia, num quase continuo do Plano Piloto. Tive dificuldades de me localizar. Esperei aterrizar para sentir a realidade.
Brasilia do ano 2008 será nossa próxima conversa.
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